o peso da lã
escrever,
tem um tom grave
um quê de sei lá
todos os meus amigos fugiram
todas as minhas palavras sumiram
quem me olha não me vê
meus versos adoeceram
como depois de uma chuva da tarde,
de um dia no sol do parque
se todos os olhos me vissem
e tudo em redor fosse somente pó
coberto por uma brisa leve que arrasta
feito um fim de semana que passa
talvez então pudesse escutar Frank Ocean
na calmaria de um navio em chamas
ou lá no alto dos antiAtlas
quase perto das nuvens
e ouvir você dizendo quando vens
we aint dead
i aint finished
i aint you
why would you care?
mas a ânsia de escrever
às vezes sobrepuja meus dedos
e — acabo — não escrevo
sinto o peso do mundo
caminhando vou como um mudo
feito Drummond
suporto, mas não queria
não mereço o mundo
nem te mereco, dias azuis
porque meu por do sol não é rosa-alaranjado.